Confissões mentais

Era um dia comum, como outro qualquer, ou talvez como nenhum, mais ou menos às 10 da manhã, ou 2 da tarde, não se sabe. Se era verão, inverno ou primavera, isso também não importa. Não me lembro muito bem a cor do meu vestido, se era curto, estampado ou comprido.
Acontece que naquele dia alguém bateu na porta, disse que havia se perdido, que chegara de uma longa viagem e que estava muito cansado, me pediu um copo com água.
No mesmo instante hesitei, mas em seguida lhe ofereci um canto qualquer do sofá ou de uma cadeira velha que estava lá, lhe perguntei seu nome, percebi que estava cansado e não conseguia falar, mais que de imediato fui buscar algo que ele tinha me pedido, um copo com suco talvez, pensei em voltar e lhe perguntar o que era, pois eu já havia esquecido. Mas não voltei.
Preparei um suco bem gelado e peguei um pedaço de bolo, pois foi a única coisa que encontrei. Ofereci-lhe, ele ainda ofegante aceitou e agradeceu, apenas acenei com a cabeça e me sentei, na cadeira velha talvez.
Comecei a observar-lhe, seu rosto, seus olhos verdes ou azuis, a barba mal feita, mas algo me chamou atenção. A medida que ele mastigava, eu sentia que batia mais forte meu coração. Em seguida ele disse que estava muito bom e me agradeceu mais uma vez.
Não consegui falar, pois estava ofegante e precisando de um copo com água, apenas sai e fui à cozinha buscar, voltei correndo para lhe perguntar seu nome e pedir seu telefone. Ele não estava mais lá. 
Não entendi o que me ocorreu. Parecia que eu havia acabado de chegar de uma longa viagem, e que tinha me perdido, pois estava muito cansada. Alguma coisa havia acontecido, mas eu não entendia se era comigo, lembrava de uma imagem apenas, que me causava uma estranha alegria, imagem de um homem talvez mas não recordava muito bem de sua fisionomia.
Se era manhã ou tarde não se sabe, se verão, inverno ou primavera não importa, mas parece que alguém bateu na porta, e quando fui abrir, não encontrei ninguém.
Mary Santos

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